É importante notar que estes efeitos dos ansiolíticos benzodiazepínicos são grandemente alimentados
pelo álcool, e a mistura álcool + estas drogas pode levar uma pessoa ao estado de coma
Tranqüilizantes ou Ansiolíticos (Benzodiazepínicos)
Definição
Existem medicamentos que têm a propriedade de
atuar quase que exclusivamente sobre a ansiedade e tensão. Estas drogas foram chamadas de tranqüilizantes, por tranqüilizar
a pessoa estressada, tensa e ansiosa. Atualmente, prefere-se designar estes tipos de medicamentos pelo nome de ansiolíticos,
ou seja, que "destroem" (lise) a ansiedade. De fato, este é o principal efeito terapêutico destes medicamentos: diminuir ou
abolir a ansiedade das pessoas, sem afetar em demasia as funções psíquicas e motoras.
Antigamente o principal agente ansiolítico era
uma droga chamada meprobamato que praticamente desapareceu das farmácias com a descoberta de um importante grupo de
substâncias: os benzodiazepínicos. De fato estes medicamentos estão entre os mais utilizados no mundo todo, inclusive
no Brasil. |
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Para se ter idéia atualmente
há mais de 100 remédios no nosso país à base destes benzodiazepínicos. Estes têm nomes químicos que terminam geralmente pelo
sufixo pam. Sendo assim, é relativamente fácil a pessoa, quando toma um remédio para acalmar-se, saber o que realmente
está tomando: tendo na fórmula uma palavra terminando em pam, é um benzodiazepínico.
Exemplos: diazepam, bromazepam, clobazam,
clorazepam, estazolam, flurazepam, flunitrazepam, lorazepam, nitrazepam, etc. A única exceção é a substância chamada clordizepóxido
que também é um benzodiazepínico. Por outro lado estas substâncias são comercializadas pelos laboratórios farmacêuticos com
diferentes nomes de "fantasia", existindo assim dezenas de remédios com nomes diferentes: Noan®, Valium®,
Aniolax®, Calmociteno®, Dienpax®, Psicosedin®, Frontal®, Frisium®,
Kiatrium®, Lexotan®, Lorax® Urbanil®, Somalium® etc., são apenas alguns
dos nomes.
Efeitos no cérebro
Todos os benzodiazepínicos são capazes de estimular
os mecanismos no nosso cérebro que normalmente combatem estados de tensão e ansiedade. Assim, quando, devido às tensões do
dia-a-dia ou por causas mais sérias, determinadas áreas do nosso cérebro funcionam exageradamente resultando num estado de
ansiedade, os benzodiazepínicos exercem um efeito contrário, isto é, inibem os mecanismos que estavam hiperfuncionantes e
a pessoa fica mais tranqüila como que desligada do meio ambiente e dos estímulos externos.
Como conseqüência desta ação os ansiolíticos
produzem uma depressão da atividade do nosso cérebro que se caracteriza por: 1) diminuição de ansiedade; 2) indução de sono;
3) relaxamento muscular; 4) redução do estado de alerta.
É importante notar que estes efeitos dos ansiolíticos
benzodiazepínicos são grandemente alimentados pelo álcool, e a mistura álcool + estas drogas pode levar uma pessoa ao estado
de coma. Além desses efeitos principais os ansiolíticos dificultam os processos de aprendizagem e memória, o que é, evidentemente,
bastante prejudicial para as pessoas que habitualmente utilizam-se destas drogas.
Finalmente, é importante ainda lembrar que estas
drogas também prejudicam em parte nossas funções psicomotoras, prejudicando atividades como dirigir automóveis, aumentando
a probabilidade de acidentes.
Efeitos no resto do corpo
Os benzodiazepínicos são drogas muito específicas
em seu modo de agir: têm predileção quase que exclusiva pelo cérebro. Desta maneira, nas doses terapêuticas não produzem efeitos
dignos de nota sobre os nossos vários outros órgãos.
Efeitos tóxicos
Do ponto de vista orgânico ou físico os benzodiazepínicos
são drogas bastante seguras, pois são necessárias grandes doses (20 a 40 vezes mais altas que as habituais) para trazer efeitos
mais graves: a pessoa fica com hipotonia muscular ("mole"), dificuldade grande para ficar de pé e andar, a pressão do sangue
cai bastante e pode desmaiar. Mas mesmo assim a pessoa dificilmente chega a entrar em coma e a morrer. Entretanto, a situação
muda muito de figura se a pessoa, além de ter tomado o benzodiazepínico, também ingeriu bebida alcoólica. Nestes casos a intoxicação
torna-se séria, pois há grande diminuição da atividade do cérebro podendo levar ao estado de coma.
Outro aspecto importante quanto aos efeitos
tóxicos refere-se ao uso por mulheres grávidas. Suspeita-se que estas drogas tenham um poder teratogênico razoável, isto é,
que possam produzir lesões ou defeitos físicos na criança por nascer.
Aspectos gerais
Os benzodiazepínicos quando usados por alguns
meses seguidos podem levar as pessoas a um estado de dependência. Como conseqüência, sem a droga o dependente passa
a sentir muita irritabilidade, insônia excessiva, sudoração, dor pelo corpo todo podendo, nos casos extremos, apresentar convulsões.
Se a dose tomada já é grande desde o início a dependência ocorre mais rapidamente ainda. Há também desenvolvimento de tolerância,
embora esta não seja muito acentuada, isto é, a pessoa acostumada à droga não precisa aumentar a dose para obter o efeito
inicial.
Situação no Brasil
Conforme já foi dito existem muitas dezenas
de remédios no Brasil à base dos ansiolíticos benzodiazepínicos. Até recentemente era comum os médicos chamados de obesologistas
(que tratam das pessoas obesas para emagrecerem) colocarem nas receitas estes benzodiazepínicos para tirar o "nervoso" produzido
pelas drogas que tiram o apetite (ver o nosso folhetim intitulado "Anfetaminas"). Atualmente a legislação não permite essa
mistura.
Além disso, há um verdadeiro abuso por parte
dos laboratórios nas indicações destes medicamentos para todos os tipos de ansiedades, mesmo aquelas que são normais, isto
é, causadas pelas tensões da vida cotidiana. Assim, certas propagandas mostram uma mulher com um largo sorriso, feliz, pois
tomou certo remédio que corrigiu a ansiedade gerada pelos três bilhetes recebidos: um do marido, avisando que chegará tarde
para o jantar; outro do filho, que afirma que chegará com o time de basquete para um lanche; e o terceiro da empregada, que
avisa que faltou pois foi ao INAMPS. Ainda existem exemplos de indicação dos benzodiazepínicos para as moças sorrirem mais
(pois a tensão evita o riso), ou para evitarem as rugas, que envelhecem (pois a ansiedade faz as pessoas franzirem a testa,
criando rugas). Não é, portanto, surpreendente que, em um levantamento sobre o uso não médico de drogas psicotrópicas por
estudantes em dez capitais brasileiras, em 1997, os ansiolíticos estivessem em terceiro lugar na preferência geral, sendo
esse uso muito mais intenso nas meninas do que nos meninos.
Os benzodiazepínicos são controlados pelo Ministério
da Saúde, isto é, a farmácia só pode vendê-los mediante receita especial do médico, que fica retida para posterior controle,
o que nem sempre acontece. |
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